Considerado um marco no setor, os SAEBs são equipamentos que utilizam baterias para armazenar energia e devolvê-la para rede elétrica
Uma cerimônia para celebrar o início das operações da planta piloto de sistemas de armazenamento de energia por baterias foi realizada no dia 14/11, nas proximidades da Unidade Administrativa 2, no campus Pampulha da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Entre as pautas do projeto estavam a contribuição técnica para o setor elétrico e as possibilidades de estudos de novos modelos de negócios.
O Projeto de P&D D0722/D0727 (Fase I/Fase II) faz parte da Chamada Estratégica Aneel Nº 21/2016 – Arranjos Técnicos e Comerciais para a Inserção de Sistemas de Armazenamento de Energia no Setor Elétrico Brasileiro.
Os SAEBs (Sistemas de Armazenamento de Energia por Baterias), como o próprio nome diz, são equipamentos que utilizam baterias para armazenar energia e devolvê-la para rede elétrica, provendo, desta forma, diversos serviços de suporte para esta rede, além de melhorar o seu desempenho.
Durante o evento, representantes das instituições parceiras da Cemig conheceram de perto a planta piloto cuja finalidade será a realização de avaliações experimentais por meio de dois sistemas de baterias que possuem, cada um deles, tecnologias diferentes.
Assista o vídeo e conheça mais sobre o projeto.
Ineditismo do projeto
Presente no evento, o diretor de distribuição da Cemig, Marney Antunes, destacou que o projeto é uma importante ferramenta que possibilita vislumbrar o futuro dos acumuladores de energia. “A integração com o sistema elétrico é nosso grande desafio”, ressaltou.
O diretor de P&D, Inovação e Transformação da Cemig, Mauricio Dall’Agnese, aproveitou o momento para destacar o potencial do estado mineiro na geração de energia limpa e renovável. “Concebido em 2016, esse projeto corrobora a força de Minas e, principalmente, da Cemig. Vale ainda lembrar que o projeto passou por inúmeras barreiras que precisaram se transpostas para se tornar realidade. Ou seja: além deste motivo para comemorar, temos o fato do seu ineditismo. Evidentemente, ainda temos muito trabalho pela frente, mas sem dúvidas trata-se de um marco histórico”.
A mesma opinião foi compartilhada pelo gerente de P&D, Inovação e Transformação, Donorvan Rodrigo Fagundes. “Esse projeto torna-se um marco importante para a Cemig nas buscas por soluções de armazenamento de energia”.
Para o professor da UFMG e coordenador geral do projeto, Wallace do Couto Boaventura, o sistema só se tornou possível por conta do trabalho conjunto das instituições parceiras. “Isso é um marco claríssimo. A partir dessa implantação, teremos um laboratório em escala real para o prosseguimento de todas as avaliações que pretendemos fazer com relação à interação do sistema de armazenamento e rede de distribuição. Teremos um misto de tecnologias e de serviços. Vamos avaliar e estabelecer parâmetros e diretrizes para melhorar o uso dessas tecnologias como um todo”.
O engenheiro sênior da FITec, Leonardo Leite também destacou a tecnologia. “Esse momento é muito importante porque nós inauguramos a conexão desses sistemas que vão proporcionar um ambiente bastante profícuo para pesquisas e para melhoria de qualidade da rede da Cemig”, avalia ele.
Já o diretor de operações da Concert, Petrônio Spyer Prates, ressaltou a parceria com a Cemig, chamando a atenção para a inovação do projeto. “A Concert sempre trabalhou com tecnologias de ponta na área de energia elétrica, inclusive contando com parcerias de grandes concessionárias brasileiras. Estamos há 30 anos no mercado e, novamente, estamos inovando com este sistema que vai resolver problemas como os apagões que estão aí e suprir demandas que a energia solar e a eólica ainda não conseguem suprir. O futuro já começou”.
Projeto piloto
O engenheiro de Gestão de Ativos da Distribuição da Cemig, Danilo Derick, explica que a partir do desenvolvimento e implantação da planta-piloto, serão feitas as avaliações técnicas, regulatórias e econômicas dos sistemas de armazenamento de energia conectados diretamente à rede de distribuição em média tensão. “Nós queremos entender se eles são realmente capazes de cumprir as funções que prometem”, avalia.
Equipamento versátil e mais econômico
O projeto contemplou a conexão de conjuntos de sistemas de armazenamento de energia totalizando aproximadamente cerca de 1,2 MW de potência – instalados em pontos estratégicos de um alimentador de média tensão (13,8 kV) para a realização das avaliações experimentais.
Derick explica que o sistema de armazenamento é um equipamento extremamente versátil tendo a capacidade de cumprir diversas funções na rede de distribuição. Ele cita como exemplo, o peak shaving ou corte da ponta. Nele, as baterias são carregadas no período de baixo consumo (à noite, por exemplo) e descarregadas (injetando energia na rede) no momento de maior consumo. “Desta forma, há um alívio da carga do alimentador durante os picos de consumo, resultando no adiamento da necessidade de investir em ampliações e reforços deste alimentador, ou seja, mais economia”.
Outro exemplo citado pelo engenheiro diz respeito à falta de energia da fonte principal da concessionária. “O sistema de armazenamento pode cumprir a função de suprimento de energia para um determinado segmento (ilha) da rede de distribuição, reduzindo a quantidade de consumidores afetados pela ocorrência”, destaca.
Derick avalia que os sistemas de armazenamento podem ainda contribuir para a evolução da capacidade de conexão de geração distribuída, principalmente a fotovoltaica, além de fornecer serviços como a melhoria no perfil de tensão da rede elétrica. “Há ainda uma melhoria da capacidade de integração de geração distribuída, o gerenciamento do fluxo de energia na rede e o aumento da flexibilidade para operação do sistema de distribuição”, cita sobre os benefícios.
Como é feito
Na primeira fase do projeto, foram realizados estudos das tecnologias de armazenamento e análises do local de aplicação. Em seguida, foram desenvolvidos os projetos, especificações técnicas e a construção da planta piloto contemplando as duas unidades SAEBs no campus da UFMG.
Usina fotovoltaica no Mineirão
Além dos sistemas de armazenamento, o cenário de projeto contempla a usina fotovoltaica do Mineirão e diversas unidades de geração distribuída – todos estes elementos conectados no mesmo alimentador da rede de distribuição. Chaves telecomandadas foram instaladas ao longo da rede elétrica para permitir maior flexibilidade e a realização de reconfigurações da rede. Todo este conjunto de tecnologias são gerenciados pelo COD da Cemig (Centro de Operações da Distribuição) através de um moderno sistema de gerenciamento chamado DERMS (Distributed Energy Resources Management System).
A partir de agora, o projeto entra na sua fase de testes experimentais para coleta de dados e produção dos resultados. Serão avaliadas as diferentes funcionalidades e aplicações do equipamento, bem como as particularidades de utilização de cada uma das tecnologias de baterias (lítio e chumbo-carbono).
Considerada uma tecnologia bastante promissora, Derick conta que ainda são poucos os casos de projetos em operação, porém, segundo ele, as aplicações dos equipamentos são as mais diversas, podendo ocorrer nos segmentos de geração, transmissão e distribuição, bem como, soluções ‘atrás do medidor’ dentro de instalações de consumidores residenciais comerciais e industriais. “Acreditamos que esta tecnologia irá se disseminar no setor”, vislumbra.
Desdobramentos
A partir da experiência e know-how adquiridos pela Cemig com o projeto, novas iniciativas envolvendo este tipo de tecnologia estão em andamento. Segundo o gerente de engenharia, automação e sistemas da distribuição, William Alves, “além da implementação dos SAEBs, estamos iniciando também outro projeto de sistema de armazenamento móvel para ampliar seu potencial de aplicação. Estamos também avaliando a aplicação da tecnologia em uma microrrede para o atendimento de um município. Outras ações estão sendo discutidas, como a ampliação da utilização das plantas construídas e contribuições para desenvolvimento de novos modelos regulatórios e de negócio”.
Fotos: Cemig/Marcel Melo