O papel da eletrificação na transição energética

23 de maio de 2025

As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios globais da atualidade, com impactos que se manifestam de diversas formas, desde eventos climáticos extremos até a perda de biodiversidade e impactos na atividade humana. A principal causa dessas mudanças é a emissão de gases de efeito estufa, resultante, em grande parte, da queima de combustíveis fósseis para geração de energia, transporte e atividades industriais.

Tornou-se necessária, portanto, a evolução da economia global para uma economia de baixo carbono, em um processo que ficou conhecido como transição energética. Trata-se da substituição gradual das fontes de energia baseadas em combustíveis fósseis por fontes renováveis, como solar, eólica, hidrelétrica e biomassa, além da promoção da eficiência energética e da eletrificação de setores. A relação entre mudanças climáticas e transição energética é direta: ao reduzir a dependência de fontes poluentes, a transição energética contribui para a mitigação das emissões de gases de efeito estufa, sendo essencial para limitar o aquecimento global e promover um desenvolvimento mais sustentável e resiliente.

Nesse artigo, vamos avaliar qual o perfil de emissões do Brasil e de Minas Gerais, e como o setor elétrico e a Cemig podem contribuir na transição energética.

Do ponto de vista das emissões de gases que causam o efeito estufa no Brasil, as principais fontes são as atividades ligadas à “Mudança no uso da terra e florestas” e à “Agropecuária” (conhecidas pela sigla AFOLU, em inglês). Em 2023, essas atividades representaram, respectivamente, cerca de 46% e 28% do total das emissões no país, segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissão de Gases (SEEG). Entre essas atividades, o desmatamento e a liberação de gases pelos animais durante a digestão (fermentação entérica) são os maiores responsáveis pelas emissões.

Em Minas Gerais, o perfil das emissões é um pouco diferente. A agricultura é a principal fonte, respondendo por 35,2% do total do estado. Em seguida vêm as mudanças no uso da terra e florestas (21,8%), o setor de energia (21,7%) e os processos industriais (15,7%), de acordo com a mesma fonte. Esse perfil está relacionado com as características da economia mineira, que já passou por muitas mudanças no uso da terra, tem uma agropecuária forte e uma indústria bem desenvolvida. Minas é o quarto estado do Brasil com maior volume de emissões, totalizando 169.755 mil toneladas de CO₂ equivalente.

O papel da eletrificação na transição energética

Perfil de Emissões do Estado de Minas Gerais. Fonte: SEEG

 

Tirando o setor de transportes, que tem características bem específicas, é importante dar atenção especial aos setores de “Energia” e “Atividades Industriais” em Minas Gerais. Isso porque há uma grande concentração de emissões em áreas como “Metalurgia”, “Cimento” e “Outras matérias-primas e indústrias”, que incluem cadeias produtivas importantes no estado, como a indústria de alimentos, cerâmicas e, em menor escala, a indústria química. Essas emissões vêm principalmente da queima de combustíveis para gerar calor e produzir aço (no caso da metalurgia), do uso de calcário na produção de clínquer (na indústria do cimento), e do uso de caldeiras e fornos nas indústrias alimentícia e cerâmica.

Por outro lado, a matriz elétrica de Minas Gerais é predominante renovável, produzindo 87% de sua energia elétrica a partir das fontes hidráulica e solar, segundo o Balanço Energético Nacional de 2024. Os outros 13%, apesar de serem provenientes de termelétricas, tem como combustíveis principais o gás natural, o bagaço de cana e a lenha, que são ambientalmente muito menos danosas que a queima de combustíveis fósseis. O estado também está empatado em primeiro lugar com São Paulo em potência instalada de geração distribuída fotovoltaica, reforçando a vocação do estado como destaque na produção de energia limpa em nível nacional.

O papel da eletrificação na transição energética

Geração de Energia Elétrica do Estado de Minas Gerais em 2022. Fonte: Mapa de Descarbonização de Minas Gerais

 

Por isso, do ponto de vista da Cemig, que atua como distribuidora e geradora de energia, além de promotora do desenvolvimento sustentável e da transição energética, é estratégico investir em projetos que unam a necessidade de reduzir as emissões das atividades produtivas do estado com a oferta de energia limpa da empresa. O foco principal dessas iniciativas deve ser os setores de Energia e Indústria, que estão mais diretamente ligados à atuação da Cemig do que, por exemplo, o setor de Mudança no Uso da Terra.

De acordo com a Agência Internacional de Energia (IEA), uma das formas mais simples e eficazes de reduzir as emissões nas atividades industriais e comerciais é por meio da eficiência energética. Isso se deve, principalmente, ao fato de que muitas dessas melhorias podem ser feitas com tecnologias já disponíveis no mercado. Por exemplo, uma indústria pode adotar medidas como trocar motores antigos por modelos mais eficientes, modernizar sistemas de ar comprimido com novos compressores e tubulações, melhorar o isolamento térmico e os equipamentos de troca de calor, além de substituir lâmpadas fluorescentes por LEDs.

Essas mudanças permitem que a indústria continue produzindo normalmente, mas com um consumo de energia bem menor. E o melhor: sem precisar fazer grandes reformas ou mudanças na estrutura física, usando apenas equipamentos acessíveis, confiáveis e com bom custo-benefício. Isso facilita o cálculo do investimento necessário e, geralmente, o retorno financeiro (payback) é rápido e vantajoso.

Apesar de importantes, as ações de eficiência energética não eliminam totalmente as emissões, especialmente quando a indústria ainda depende da queima de combustíveis. Nesses casos, mesmo com equipamentos mais eficientes, ainda há emissão de gases poluentes. Para reduzir essas emissões de forma mais significativa, é preciso substituir os combustíveis usados, o que exige mudanças mais profundas nos processos produtivos.

Essa substituição envolve desafios como encontrar novos materiais adequados, adaptar equipamentos, ajustar a produção e garantir o fornecimento constante do novo insumo. Por isso, essas mudanças exigem planejamento de longo prazo e estudos mais detalhados, especialmente em setores industriais mais complexos.

Por outro lado, há casos em que a substituição energética é mais simples, como na geração de calor em temperaturas baixas e médias (até 400 °C), comum em indústrias como a de alimentos, têxtil, cerâmica e de papel e celulose. Nesses setores, é comum o uso de lenha, biomassa, biogás e subprodutos como a lixívia. Embora sejam fontes renováveis, essas opções ainda geram emissões e não são totalmente neutras em carbono.

O papel da eletrificação na transição energética

Projeção de Fonte de Energia para a Indústria Leve Global. Fonte: IEA

 

A alternativa mais promissora para eliminar emissões é a eletrificação direta, especialmente quando a eletricidade vem de fontes renováveis — como é o caso do Brasil e, em particular, de Minas Gerais. Assim, a combinação de eficiência energética com eletrificação se mostra a estratégia mais eficaz para a Cemig. Essa abordagem, inclusive, está alinhada com estudos internacionais sobre o futuro da energia na indústria leve em um cenário de emissões zero.

Em breve, vamos apresentar os projetos que a Cemig já está desenvolvendo nessa direção!

gestor do núcleo de geração sustentável

Artigo escrito por João Luiz Vieira Salomão – Gestor do Núcleo de Geração Sustentável

 

Foto: Freepik

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