A transição energética e a digitalização do setor elétrico têm colocado os medidores inteligentes como peças-chave na modernização das redes de distribuição. Além de registrar o consumo de energia, esses dispositivos se tornaram uma fonte estratégica de dados para a tomada de decisão operacional, para o planejamento do sistema e na melhoria da experiência do cliente.
Ao permitir a leitura remota do consumo, os medidores inteligentes substituem processos manuais, como o envio de um técnico ou leiturista à unidade consumidora, possibilitando um controle mais efetivo da rede.
Do ponto de vista do faturamento, a digitalização da medição reduz erros de leitura, elimina a necessidade de estimativas de consumo e melhora o relacionamento com o consumidor, que pode ter acesso a informações detalhadas sobre seu consumo e sobre como gerir melhor seus hábitos energéticos.
Com a medição inteligente, é possível identificar picos de consumo, detectar perdas não técnicas, antecipar falhas e atuar de forma segmentada em caso de interrupções. Na prática, isso se traduz em mais eficiência para a distribuidora e mais qualidade para o cliente.
Empresas no mundo todo já demonstram resultados concretos com o uso estratégico da medição inteligente. A Florida Power & Light, nos Estados Unidos, utiliza cerca de 5 milhões de medidores inteligentes para monitorar em tempo real o consumo de energia e detectar automaticamente interrupções, acelerando a resposta operacional durante eventos na rede. No Reino Unido, a British Gas desenvolveu plataformas que permitem que os consumidores acompanhem em tempo real seu consumo e recebam alertas para evitar desperdícios, ao mesmo tempo em que estes dados alimentam os centros de operação para previsão de demanda.

Fonte: T&D World (2025)
Em diversos países, a medição inteligente em larga escala já é realidade consolidada. Em países como Itália, Suécia e Finlândia, a cobertura ultrapassa 95%. Nos Estados Unidos, mais de 120 milhões de medidores inteligentes já foram instalados, cobrindo mais de 70% das residências.
Dados da Transforma Insights indicam que a medição inteligente crescerá significativamente até 2033, com destaque para países da América do Sul e sul da África. Atualmente, União Europeia e China praticamente concluíram suas implantações de medidores inteligentes. A expectativa é que o número de medidores inteligentes instalados no mundo mais que dobre, atingindo 3,4 bilhões de unidades, com uma receita anual estimada de US$ 40 bilhões.

Fonte: Transforma Insights (2024)
A tendência é que os medidores inteligentes se tornem parte de um ecossistema digital mais amplo, conectados a sensores, sistemas de automação e plataformas de decisão baseadas em dados. Além de medir, esses dispositivos passarão a atuar em tempo real com respostas dinâmicas, suporte a tarifas diferenciadas e integração com usinas solares, baterias e veículos elétricos.
Um exemplo é o San Diego Solar-to-EV Pilot Project, na Califórnia (EUA), que integra medidores inteligentes, painéis solares residenciais e carregadores de veículos elétricos em uma única solução. A iniciativa permite que consumidores carreguem seus veículos com energia solar excedente, enquanto o sistema identifica em tempo real os melhores horários para carga, incentivando o uso fora do pico. O projeto demonstra, na prática, como os medidores inteligentes operam como sensores da rede e habilitadores da resposta dinâmica, ao conectar geração distribuída, consumo inteligente e gestão ativa da rede elétrica.
A regulação brasileira também caminha nessa direção, com a Aneel discutindo modelos que incentivem a eficiência, a transparência e o uso ativo das informações geradas pelas redes inteligentes. Um exemplo é o Sandbox Tarifário, que permite testar, em ambiente controlado, novos modelos de cobrança de energia elétrica. E para que isso ocorra, os medidores inteligentes são primordiais nesse processo, pois possibilitam a medição do consumo, viabilizando a aplicação de novas tarifas e formas de pagamento, permitindo que consumidores acompanhem e ajustem seus hábitos de forma informada.
Em junho de 2025, o Ministério de Minas e Energia (MME) anunciou a meta de digitalização das redes de energia em todo o Brasil no prazo de até 10 anos. A decisão estabelece diretrizes para que concessionárias de distribuição invistam em infraestrutura digital, incluindo a ampliação da medição inteligente, automação da rede e sistemas de telecomunicação. A medida reforça o compromisso do país com a modernização do setor elétrico, alinhando-se às boas práticas internacionais e garantindo maior eficiência, confiabilidade e qualidade no fornecimento de energia aos consumidores.
Na Cemig, seguimos conectando tecnologia e estratégia para entregar energia com mais inteligência, qualidade e valor para a sociedade.
A companhia tem investido continuamente na modernização da rede de distribuição, na ampliação do uso de medidores inteligentes, na diversificação e interoperabilidade de modelos de medidores inteligentes, no uso de diferentes meios de comunicação para transferência de dados e disponibilização das informações de consumo aos clientes.
A empresa também possui projetos de inovação relacionados a ferramentas analíticas para exploração dos dados gerados pelos medidores, com foco em perdas, pontos de previsão de carga e melhoria da experiência do cliente. Esses projetos são passos importantes para consolidar a infraestrutura digital que sustenta as redes elétricas do futuro.
Quer inovar com a Cemig? Saiba mais sobre os nossos desafios de inovação.
Referências:
BRITISH GAS. Smart Meters. Londres: British Gas, 2024. Disponível em: https://www.britishgas.co.uk/energy/smart-meters.html. Acesso em: 17 jun. 2025.
CHAVES, C. et al. Smart metering deployment worldwide: An overview of the last decade and future directions. Renewable and Sustainable Energy Reviews, [S. l.], v. 176, 2023. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1364032123003751. Acesso em: 17 jun. 2025.
FPL – FLORIDA POWER & LIGHT. Smart Grid Technology. Florida: FPL, 2025. Disponível em: https://www.fpl.com/blog/smart-grid-tech.html. Acesso em: 17 jun. 2025.
BRASIL. Ministério de Minas e Energia. Portaria Normativa nº 111, de 18 de junho de 2025. Estabelece diretrizes para a digitalização das redes de distribuição de energia elétrica no Brasil. Diário Oficial da União: seção 1, Brasília, DF, ed. 515, p. 47, 23 jun. 2025. Disponível em: . Acesso em: 24 jun. 2025.
HARVARD BUSINESS SCHOOL. Florida Power & Light: making a smart (meter) bet on the power grid of the future. Boston: HBS, 2017. Disponível em: https://d3.harvard.edu/platform-rctom/submission/florida-power-light-making-a-smart-meter-bet-on-the-power-grid-of-the-future/. Acesso em: 17 jun. 2025.
SMART ENERGY INTERNATIONAL. 120 million smart meters in US in 2022. Londres: Smart Energy, 2024. Disponível em: https://www.smart-energy.com/industry-sectors/smart-meters/120-million-smart-meters-in-us-in-2022/. Acesso em: 17 jun. 2025.
TRANSFORMA INSIGHTS. Global smart meters 2033. Londres: Transforma Insights, 2024. Disponível em: https://transformainsights.com/news/global-smart-meters-2033. Acesso em: 17 jun. 2025.
UTILITY PRODUCTS. Integration of Advanced Metering Infrastructure and Outage Management System Reflects Smart Grid Goals. Cleveland: Utility Products, 2025. Disponível em: https://www.utilityproducts.com/test-measurement/article/16003286/integration-of-advanced-metering-infrastructure-and-outage-management-system-reflects-smart-grid-goal. Acesso em: 17 jun. 2025.

Artigo escrito pela Gestora do Núcleo Estratégico Future Grids – Carolina Cândida de Oliveira
Foto: divulgação/Cemig